quinta-feira, agosto 30

Atacadinha

Dia desses escutei algo que, apesar de seu uso comum, me causou profunda estranheza. Começava assim: "Às vezes quando eu me ataco...". Na verdade, nem recordo o que vinha depois, porque, pela primeira vez, congelei nessa idéia do "me ataco", do "se atacar".
Peraí! Como assim se/me/te atacar??? Se vez ou outra (embora possa acontecer de a freqüência ser maior) já se é atacado pelo vizinho que insiste em te alfinetar, pelo colega que não consegue esconder o ranso em te ver numa boa e, se até mesmo dos teus mais próximos acontece de receberes ataques à "queima roupa" - por que é que ainda tu mesmo precisa te atacar? Não é possível, deve haver alguma batida suicida nesse negócio.
Obs1. O "tu" é uma forma de falar comigo mesma - auto-atacadinha de plantão.
Obs2. Engraçado este uso do ataque em espanhol - "me agarró un ataque" - o famoso "tive um ataque". Precede sempre a narração de um comportamento que se imagina que o interlocutor não espera. O engraçado é que é mais passivo...

domingo, agosto 26

Nota sobre a noite

Maquiagem, cabelo, três pedaços de pano, scarpin e um daqueles brincos assimétricos que até o final da noite te farão escutar: "tu viu que tu perdeste um brinco?". São alguns elementos que te dão a ilusão de ser uma boa representação de si mesma.
A noite é errante. Se bebe aqui, se come acolá e com sorte se encontra um pouco de diversão em um terceiro lugar. Sim, diversão! Para meu próprio espanto é isso e apenas isso que procuro. De todos modos definitivamente não faço gênero blasé. Insisto no sorriso, salvo se ao lado me encontre com alguma tragédia.
O fato é que na dita noite estou sem sorte e não encontro esse tal terceiro lugar nem no quarto, nem no quinto dos infernos. Percebo que a tragédia não está exatamente ao lado... A noite é uma criança chata e ranhenta!
E o pior: já estou muito despenteada para posar blasé. Então, fico entediada mesmo e assim economizo o meu raso francês. Começo a sentir o cheiro da comédia... Por que às vezes o humor é tão lógico?
Ah, como é engraçado esse negócio de insatisfação. Se está "sozinha" de alguém e acompanhada por outro que melhor seria que te deixasse só. Paradoxismos à parte, uma verdade me está sendo dita, os momentos de maior diversão e desprendimento que tive na vida nunca foram preparados. Pelo menos não por mim.