quarta-feira, setembro 19

Fuga

Sempre soube que ele estava lá naquele pedaço de papel. Sempre soube... Ele também está lá esperando naquela música que agora reluto em escutar. Lá está ele. Eu o guardo, o cuido. Todos os dias passo por ele, mas apenas passo, lembrando que na verdade ele está lá, bem cuidado, a salvo da poeira mental... No entanto, ele insiste em conclamar, em atarantar e me rechear de idéias às quais levei anos treinando o meu cérebro para refutar. O cérebro pode ser às vezes um lugar bem inóspito, ele me mostra. Não adianta. Ele escarafuncha e abre brechas. Não posso nem dizer que invade, pois já estava lá, só que guardado, desligado. Não adianta. Insiste em me açoitar e quanto mais me precavenho de sua presença, mais tenho certeza de sua constância. Decido não escutar aquela música e lá está ele; volume intenso. Evito aquele perfume, aquele caminho... Ando mais longe e paro no mesmo lugar. "Pelo menos deixa eu me acostumar", eu peço. Cruel, ele me chama de hipócrita e tem razão, pois está sempre comigo, de fato. Ah... pensamento... você sempre ganha.

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