quinta-feira, setembro 13

Combinações

Escrevo. Não, não posso mais fingir que o faço mais para os outros do que para mim.
Escrevo. Porque as falas que não irrompem se diluem e, antes que eu as perca...
Escrevo! Ah... escrevo.
Porque já não suporto mais marcar meu corpo com tantos sentidos, sintomas e agruras.
Escrevo porque preciso ter a sensação de retomar aquele pedaço que hoje me esburaca em uma ausência corrosiva e atroz.
Escravo! Percebo e aceito que desde meu coração até às pontas de meus dedos existe uma tensão que já não pode mais ser ignorada.
Cravo. São letras... somente e absolutamente letras de um tempo remoto. De um tempo em que recupero tudo aquilo que não existiu, mas que sempre insistiu em mim.
Travo: pois nada tenho de tão meu e tão de quem queira hospedar em seu ser, quanto as combinações que faço com essas letras.

2 comentários:

Marília disse...

Do tempo que passa e do tempo que não passa, ficam as inquietações que de seus calafrios convocam à vida.
Dos buracos, vazios, sentidos opacos: que se costurem novos fios.
Na trama das letras, os nós mais íntimos, quiçá não se desfaçam - mais bem se deixam atravessar por notas outras.

Beso.

IN cômoda disse...

Ainda e sempre esse tempo parece permitir nossas costuras e tramas. Puras combinações às quais nos agarramos com hesitação, mas não sem excitação... Por aí vamos tramando e trançando malhas de um destino forjado que fingimos inelutável e irrefutável. Acho que é assim, juntamos cacos de objetos que não conhecemos em sua plenitude... Escrevamos!